TRAIN IN VAIN STAND BY ME
The desert is not remote in southern tropics,
The desert is not only round the corner,
The desert is squeezed in the tube-train next to you,
The desert is in the heart of your brother.
Choruses from the rock
Eliot
Ontem fiz algo que não fazia faz um bom tempo: fui assistir um filme sozinho. Nos meus tempos de São Paulo isto era tão comum; ia ao cinema, no mínimo, duas vezes por semana, quase sempre sozinho. Assim assisti meu primeiro Felini na telona!
Assistir um filme sem estar acompanhado nunca me incomodou. Na maioria das vezes eu ficava estudando e trabalhando em casa até a cabeça pesar. Cansado, eu pegava o metrô e descia na Paulista; no caminho eu equilibrava um pouco o pensamento e cantarolava alguma coisa, quase sempre um samba do Adoniran.
Cinema. Eu movimentava minhas idéias e frustrações, correndo nas tumultuadas calçadas da Augusta, conseguindo pensar em coisas tristes com muita autoridade e segurança – aquela “parada” era a minha, ali eu nunca me passava por estrangeiro!
Teve uma vez que sai da sala em prantos, depois de assistir um filme do Kosta-Gravas chamado AMEN. Baqueado, encostei num balcão de padaria (essas padarias paulistanas...) e chamei um café; um senhor de cabelos brancos me olhou e sentenciou, “é a vida!”. Pois é, a vida!
Outra vez, após apreciar o documentário “Paulinho da Viola – meu tempo é hoje”, fui invadido por uma imensa vontade de beber cerveja até virar os olhos. Sozinho, me enfiei em outra padaria; na segunda garrafa já estava de papo com duas meninas do Mackenzie que cursavam alguma coisa chata que fiz questão de esquecer. Foi divertido e acabamos secando mais duas garrafas. Voltei pra casa cantando Nelson Cavaquinho.
Ontem foi estranho, pois me senti muito sozinho. Primeiro me sentia estranho naquele cinema, repleto de casais e grupos de amigos. Engraçado, mas sinto que fiquei intimidado naquele lugar, com lembranças que me colocavam muitas mais as topadas do que os acertos; estranho, novamente estranho.
O filme foi maravilhoso. “Diários de Motocicleta” coloca, sim, um discurso (e eu não entendo bem qual é o problema disto, afinal, o cinema em si é uma narrativa, um discurso elaborado em muitas direções). Gostei, e isto já é o suficiente agora (voltou ao filme em outra oportunidade).
Na saída, mirando a rua escura e vazia, desisti de buscar um café. Andei até minha casa assoviando algumas melodias que despertam alegrias e desviam a cabeça de memórias pobres. Fiquei tão cansado, e não foi pela caminhada!
Hoje acordei pensado neste “deslocamento” e numa visita que terei que fazer ao caos de Sampa na próxima semana. Juro que não queria ir, pois sinto também que aquela cidade não mora mais em mim; o difícil é saber que aqui eu também não me sinto em casa. Acabei por lembrar de outro filme, o “Raízes do Brasil”, recuperando uma sentença do Sérgio Buarque: “Somos desterrados em nossa própria terra”.
Espanta-me a falta de referências que tenho experimentado, encontrando tesão somente num amontoado de idéias escritos em três ou quatro livros. Espanta-me também um paradoxo que está ganhando campo entre meus sentimentos: quanto mais me desinteresso pelas mulheres e pelas pessoas, maior é o meu desejo de entender, assimilar e produzir pensamentos sobre a América Latina e o Brasil.
Vou pensar mais nisto, em silêncio, para não atrapalhar o ruído que o vento faz raspando em minha janela.
The desert is not only round the corner,
The desert is squeezed in the tube-train next to you,
The desert is in the heart of your brother.
Choruses from the rock
Eliot
Ontem fiz algo que não fazia faz um bom tempo: fui assistir um filme sozinho. Nos meus tempos de São Paulo isto era tão comum; ia ao cinema, no mínimo, duas vezes por semana, quase sempre sozinho. Assim assisti meu primeiro Felini na telona!
Assistir um filme sem estar acompanhado nunca me incomodou. Na maioria das vezes eu ficava estudando e trabalhando em casa até a cabeça pesar. Cansado, eu pegava o metrô e descia na Paulista; no caminho eu equilibrava um pouco o pensamento e cantarolava alguma coisa, quase sempre um samba do Adoniran.
Cinema. Eu movimentava minhas idéias e frustrações, correndo nas tumultuadas calçadas da Augusta, conseguindo pensar em coisas tristes com muita autoridade e segurança – aquela “parada” era a minha, ali eu nunca me passava por estrangeiro!
Teve uma vez que sai da sala em prantos, depois de assistir um filme do Kosta-Gravas chamado AMEN. Baqueado, encostei num balcão de padaria (essas padarias paulistanas...) e chamei um café; um senhor de cabelos brancos me olhou e sentenciou, “é a vida!”. Pois é, a vida!
Outra vez, após apreciar o documentário “Paulinho da Viola – meu tempo é hoje”, fui invadido por uma imensa vontade de beber cerveja até virar os olhos. Sozinho, me enfiei em outra padaria; na segunda garrafa já estava de papo com duas meninas do Mackenzie que cursavam alguma coisa chata que fiz questão de esquecer. Foi divertido e acabamos secando mais duas garrafas. Voltei pra casa cantando Nelson Cavaquinho.
Ontem foi estranho, pois me senti muito sozinho. Primeiro me sentia estranho naquele cinema, repleto de casais e grupos de amigos. Engraçado, mas sinto que fiquei intimidado naquele lugar, com lembranças que me colocavam muitas mais as topadas do que os acertos; estranho, novamente estranho.
O filme foi maravilhoso. “Diários de Motocicleta” coloca, sim, um discurso (e eu não entendo bem qual é o problema disto, afinal, o cinema em si é uma narrativa, um discurso elaborado em muitas direções). Gostei, e isto já é o suficiente agora (voltou ao filme em outra oportunidade).
Na saída, mirando a rua escura e vazia, desisti de buscar um café. Andei até minha casa assoviando algumas melodias que despertam alegrias e desviam a cabeça de memórias pobres. Fiquei tão cansado, e não foi pela caminhada!
Hoje acordei pensado neste “deslocamento” e numa visita que terei que fazer ao caos de Sampa na próxima semana. Juro que não queria ir, pois sinto também que aquela cidade não mora mais em mim; o difícil é saber que aqui eu também não me sinto em casa. Acabei por lembrar de outro filme, o “Raízes do Brasil”, recuperando uma sentença do Sérgio Buarque: “Somos desterrados em nossa própria terra”.
Espanta-me a falta de referências que tenho experimentado, encontrando tesão somente num amontoado de idéias escritos em três ou quatro livros. Espanta-me também um paradoxo que está ganhando campo entre meus sentimentos: quanto mais me desinteresso pelas mulheres e pelas pessoas, maior é o meu desejo de entender, assimilar e produzir pensamentos sobre a América Latina e o Brasil.
Vou pensar mais nisto, em silêncio, para não atrapalhar o ruído que o vento faz raspando em minha janela.
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