sexta-feira, junho 25, 2004

OS OLHOS DE JUDITE

Faltam os olhos – digo – os olhos!
Os olhos de Judite, minha personagem alemã
Com seus patins vermelhos e calças rompidas.
Cabelos longos e beijo quente.
Respiração intensa com aparente calma.
Faltam os olhos, os olhos de Judite.

É nela que tudo começa, que tudo inicia, que tudo principia.
Judite me fez homem, tirou meu cabaço, comeu minha vergonha
Tomou meu resfriado, esquentou a comida
Fez um quintal no meu quarto e rebaixou a partida.
Judite fez de mim o que eu não consigo ser!
E é nela que tudo começa, que tudo inicia, que tudo principia.

Bem lhe disse sobre o Brasil; mas o que é Brasil?
Pedi para vir ser mulher nas terras morenas
Nas bocas de noite
Nos bairros inundados de lodo e boemia.
Falei pra Judite que aqui se mata por pouco dinheiro
E se morre de paixão.
Falei, Judite, falei.

Bem que lhe disse sobre o amor; mas o que é amor?
Pedi pela tarde, beijando e trocando
Salivas antigas de outras paixões.
E a sua presença, seu peso macio
Roçando a carícia, calando o afoito.
Pedi pela tarde, Judite, pedi
Mas você partiu.

Faltam os olhos – digo – os olhos!