segunda-feira, novembro 14, 2005

Madness

Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar
Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos
Na costura da minha vida
Mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó
E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações
Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções
Sentimental eu fico . . .
E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com Satã
E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã
E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã.
Sentimental eu fico
Renato Teixeira


Despertei com a cara amassada e judiada pela ressaca. Ontem foi fogo. Reunimos os professores do colégio para uma botecada bem animada. O Márcio, colega da tesouraria, já foi cozinheiro e ficou responsável pelos quitutes. Fez croquete, torresmo, esfiha, quibe, lingüiça recheada com queijo e costela bovina com mandioca. Orgia gastronômica total!

Fiquei por conta das batidas. Fiz caipirinha, batida de maracujá, de carambola, cuba libre... Mas o carro chefe foi o mojito cubano, este sim, feito no capricho e com todo o ritual necessário. Limão, rum, açúcar, água com gás, hortelã e gelo picado, Muito hortelã em tudo. Pessoal gostou e aplaudiu; secaram minha garrafa de Bacardi.

Hoje tenho coisas tolas pra fazer. Banco, barbeiro, mercado, locadora de vídeos... Vida besta. No final da tarde vou ver se arrasto um amigo querido pro cinema. Ou pro bar.

Impressionante a vida. Estava, na noite de Sexta, embalado no whisky. Tinha combinado com uns amigos, mas como ninguém apareceu, fiquei sozinho mesmo. Noite fresca e bar lotado. No balcão, conversei um bom tempo com o Moisés enquanto ele me arrumava uma mesa. 'Mesa na varanda, por favor'.

O céu estava cravejado de estrelas, sem nenhuma nuvem passageira e vadia. O problema era as pessoas ao lado, todas falando muito alto e rindo de qualquer besteira. Nas minhas costas estava sentado um japonês de franja tingida e óculos moderninho. O rapaz não parava quieto, ficava gritando, rindo alto e gesticulando. De tempos em tempos batia seu cotovelo na minha cadeira. Estavam falando alguma merda sobre bandas que eu nunca ouvi falar. Deveriam ser grupos britânicos ou qualquer outro pastiche do gênero. Merda. Se eu pudesse mandava este japonês e suas amiguinhas de Melissinha pra casa do caralho. Fui pra cama.

Estava entretido numas idéias. O que é realmente importante na vida? Pergunta chavão, mas forte para um homem idiota. E eu sou um homem idiota. Caramba... Assustei ao perceber que muitos dos meus desejos são vazios e que minha vidinha está cada vez mais próxima de se tornar uma piada perigosa que nunca me fez nenhuma graça. Pro inferno.

Ainda nesta manhã fui golpeado sem dó. Tinha preparado uma aula ambiciosa sobre ditadura militar brasileira. De 1964 até 1985, com cores, sons e palavras. Aula de militante, esquerda mesmo, deixo claro. Bom, fiquei por conta disto a tarde toda de quinta-feira, buscando arquivos de sons na Internet e imagens importantes. Montei uma apresentação multimídia que começava com o áudio de uma rádio mineira anunciando o início das movimentações dos milicos e terminava com Inútil, no clima das Diretas Já. Não funcionou. Os alunos da oitava só sabiam rir do meu esforço.

Não sei se era mais fácil, mas quando eu amava a Carolina tinha um gosto melhor pela humanidade. Tolo, não? É que gasto toda a minha verte social em sala de aula, que é uma aventura. Subir num palanque e encarar 30 rostinhos mais interessados em comer Danoninho do que em 1789. Se bem que no terceiro colegial eu consegui alguma coisa... De qualquer forma, saio exausto de lá, exausto de vozes, de comportamentos, de “eus”. No restante do dia não quero escutar uma pergunta ou lamento, só o meu acolhedor e confortável silêncio.

Vou pro boteco. Serra Malte trincando, azeitona no azeite e queijo fresco. Estou realmente preocupado com a barriga, o que me condiciona a pastar alface a semana toda. Não ali. Pondero se era mais fácil com a Carolina a tiracolo. Penso em pular da ponte, jogar na loteria, pedir outra cerveja. É bem mais gostoso quando leio Bukowski.

E o japonês não pára de falar.