quarta-feira, outubro 19, 2005

A Hora da Estrela

Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio
Meu amor, minha flor, minha menina
zeca baleiro

Dor de cabeça. Um pouco mais forte do que a normal, mas tudo bem. Já me acostumei com elas. Procurei aspirinas ou tylenol e não encontrei nada. Estas coisas somem aqui em casa! Dor de cabeça. Talvez seja por culpa do café em excesso.

Ou da falta de sono.

Como um representante da raça esquerdista brasileira, recentemente amaldiçoada pelo banqueiro e senador Bornhausen, também gosto de bater o meu tambor. Las brujas, compreende chico? E com a maré tão turva e brava, procurei algum tipo de macumba profissional daqui do sertão, só pra dar um refresco. Tempos bicudos estes. Encontrei um banho de descarrego e energização, composto de ervas e sal grosso. Cheira bem e paguei barato. Estréio nesta noite.

Pois é. Ontem me ligaram do banco. “Sua conta estourou em R$12,00”. Porra, doze reais é quantia pra estourar conta? É! Fui lá e depositei um dinheiro, cobrindo o prejuízo. Na saída meu carro não pegava. Bateria. E toco pro mecânico.

Vamos lá. Terça-feira corrida, com aulas da sete da matina até as dez da noite. Uma aluna do cursinho estava toda gracinha, perguntando e sorrindo de canto na aula toda. Delícia. Uma blusa curta marrom, de alças, sem sutiã. Calça larga e corpinho de bailarina. Vai tentar cênicas na Unicamp e adora Clarisse Lispector. Queria agarrar a mocinha, mas com tanto trabalho e estresse, não tenho encontrado energia nem para tocar uma punheta.

De certo, dormi pesado.

Hoje, no colégio, o patrão me chamou. Chamou também o professor de Geografia e a de Biologia, meus comparsas em nossa comuna educacional. Queria bater um papo, abrir o jogo para nós, o que me surpreendeu, pois não sabia que estava bem cotado a este ponto. A situação financeira do ensino médio está muito deficitária e se as matrículas não atingirem um patamar mínimo ele vai manter só as turmas do fundamental, que estão cheias. Veio conversar com a gente, pedir opinião, algum tipo de sugestão. Li o papo como um aviso indireto de “vocês que são meus professores, desculpe, mas não posso continuar e comecem a procurar novos empregos”. Chateou pensar que posso não estar mais com estes colegas em 2006 e sem o dinheiro de lá também. O salário é curto, mas paga meus livros e biritas...

Já em casa comecei a trabalhar com o computador, escrevendo o texto da dissertação. Mouse não funcionava bem e, quando abri para limpá-lo, caíram uns pedacinhos de dentro. Porcaria descartável que me fez correr até o supermercado e entrar, mais uma vez, no cheque especial.

Uns pedacinhos de loucura.

Na correria percebi que por onde ando só esbarro em livros. Contei uns oito espalhados pelo carro, uns trinta no chão do quarto e três na cadeira de estudo. Isto fora os das estantes e da escrivaninha. Tudo empilhado, com papéis riscados e esquemas de aulas, amontoados. Deu uma depressão ver tudo isto desorganizado, silencioso, empoeirado... Pintou um desespero, pois senti isto como uma metáfora da minha vida: uma confusão entulhada, cheia de pó, solidão e sem sentido. Eita metáfora perigosa!

Ainda assim, tenho calma. Quando consigo, durmo pesado sem sonhos e pesadelos. Durmo. Escutando George Gershwin, bebendo café com conhaque e assistindo pouca TV. A cada dia me torno um sujeito mais desinteressante e lacônico. Tenho calma e sei que tudo o que posso fazer agora é preparar uma excelente aula para o terceiro colegial.

E durante quase duas horas serei um bom professor de história geral.

1 Comments:

Blogger kellen said...

Oba, blog movimentado!
E uma observação: descordo sobre "sujeito desinteressante e lacônico". Não é não.
Bjs

12:08 AM  

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