Jogo tenso
Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as percentagens, temporariamente. E esta é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos.
O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
Charles Bukowski
O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
Charles Bukowski
Resolvi cuidar um pouco da saúde. Fico pastando alfaces de segunda até sexta. Sem o pastel de quinta-feira, sem o whisky da noite, sem sorvete de flocos. E a intenção não está em aumentar a expectativa de vida. Quero mesmo é ficar um pouco mais agradável e resistente fisicamente, ou melhor, não tão acabado. Bicicleta e caminhada. Bom pra pensar enquanto ando.
É cansativo. Ontem recebi uma mensagem de uma moça que eu estava flertando. Agradeceu pelo encontro que tivemos, pelas bebidas e pela conversa. Agradeceu muito como uma grande amiga. Pois é. Tem horas que eu consigo ser simpático.
Este é o ponto. Não sei bem onde começo a me atrapalhar, mas todas as mulheres que tento seduzir terminam como amigas. É estranho, não posso me queixar destes sentimentos, mas cada vez que sou castrado enquanto macho e recebo os louros da amizade, termino meu dia absolutamente frustrado e chateado.
No trabalho vejo que as coisas estão perto do fim. Últimas aulas, últimas páginas. Ruim é ficar sem dinheiro para viajar, mas sei que vou arrumar alguma coisa. É que não consigo passar semanas de férias no esquema miojo-água. Francamente, quero descansar, e isto me é sinônimo de ficar num lugar diferente, vendo coisas diferentes, com meia-dúzia de livros e algum boteco fresco. Não desejo outras coisas, passeios ou grandes hotéis: quero um lugar tranqüilo, longe desta merda, em que eu possa ler e beber sem ter que lembrar de quem eu estou tendo que ser.
Não paro de mexer no meu currículo, meio que numa esperança de conseguir um bom emprego em 2006 por causa das palavras exatas que coloco nele. Talvez seja o meu texto mais ambicioso. Já entreguei muitos e até janeiro espero despejar umas três dezenas por aí. Realmente gostaria de voltar para São Paulo, mas andei fazendo contas e entendo que só devo voltar se conseguir juntar algum dinheiro. Até hoje foram oito anos na Paulicéia praticamente ganhando para viver por lá, pagando caro por isto. Preciso de uma quantia para viajar, ir de carro até Porto Alegre, enfim...
Tampouco me contenta a possibilidade de ficar por aqui. A impressão que tenho é a de que já conheço todas as mulheres interessantes da cidade, e que, na visão delas, eu não sou tão interessante para ser conhecido. No boteco, conservando com o Moisés enquanto ele me serve cerveja, tenho a impressão que já estou sendo visto como uma figura natural do lugar, tal qual aqueles tios bêbados que residem em certos balcões de bares. Um inferno. De tempos em tempos encontro com um destes tipos que resolve puxar um papo. Banalidades engraçadinhas que costumam girar em torno da tríade masculina bunda de mulher – futebol – bebedeiras. Odeio isto. Odeio com força, com raiva, com desespero. Odeio quando um deles chega e, tentando ser simpático, diz alguma coisa sobre o Corinthians ou São Paulo, gargalhando com umas risadas falsas. É um desconhecido. Vou ao bar para fugir de casa, para beber e para encontrar dois ou três amigos. E só.
Comprei uns livros bacanas, mas não quero escrever sobre eles. Estão no meu lado, eu fico folheando, rondando. Delícias para dezembro. E até lá me arrasto.
2 Comments:
caríssimo, veja só: se você precisar de ajuda pra entregar currículos aqui em São Paulo, me avise, por favor. Não sei como ajudar, exatamente, mas espero ajudar.
A sensação de saturação é imobilizante, mas acho que o bacana é quando a gente consegue ultrapassá-la e transformar em alguma coisa nova. Dever de casa para 2006 (o meu): manter o movimento.
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