terça-feira, janeiro 03, 2006

A volta da Asa Branca



A coisa é bem assim: vamos terminar antes que ele termine com você. O ele é o meu mestrado e o você sou eu. Morou?

Estou trabalhando muito, o que me deixa um pouco irritado e sem muito entusiasmo para escrever outras coisas que não estajam relacionadas com judeus do século I. Judeus, romanos, Jerusalém, massacres e sutilezas políticas. É a velha história da compaixão humana: porrada pra todo lado.

Onde é que eu estava com a cabeça quando fui me enfiar em uma pesquisa tão complicada assim? Deveria estar apaixonado, não por uma pessoa, mas pelo tema. E paixão lá é coisa de se levar em conta?

Estou escrevendo e refletindo sobre o tema, a pesquisa ficando pronta, vendo as coisas por inteiro. Não está do jeito que eu gostaria, realmente não está. Mesmo assim, consigo ficar excitado por vezes, gostando do que leio, das conexões, da sisuda historiografia que coloco em meu texto. Pode ser que dê samba.

O samba do pançudo ruivo.

O estranho é pensar na minha vida sem Josefo (Iossef, Josephus, Joséphe, Guiseppe... vai ao gosto do freguês). Li e reli tudo que ele escreveu e muita coisa que escreveram sobre ele. Flávio Josefo, o judeu de Roma. Estou eu, agora, escrevendo sobre ele pra alguém ler. É muito estranho ver as coisas deste modo, saber que logo estarei fazendo parte da historiografia, levando críticas, parindo um texto científico. Ainda tenho medo de assumir as honras de historiador, talvez porque não consiga me ver assim. Gosto da biblioteca e do bar, o que é um começo.

E a Europa? Em 2001 tinha completa veneração pelo Velho Mundo, em especial pela França. Francófilo de Asterix. Até isto o mestrado mudou. Na verdade, derrapei em páginas prensadas com o peso de milhões de almas trituradas no progresso branco, na estrada de ferro, na Coca-Cola. Oui. Não que eu não goste de hambúrgueres ou revista Playboy, mas agora quero viajar para Buenos Aires. Um amigo me contou das livrarias, outro dos cafés, outro da zona. Noite portenha no horizonte do professor.

Professor procurando trabalho, é bom esclarecer. Afinal, sou um brasileiro de respeito, fudido, mas de família. Fiz seis entrevistas e agora estou esperando decisões do sistema educacional particular. Atuando, como lembra uma moça linda, na reprodução do capital. Pode até sobrar um bloco de aulas interessantes, bem na área que eu gostaria.

Minha casa está tão tranqüila, o que me deixa deliciosamente sereno. Estou sozinho a mais de uma semana e só estarei com minha família novamente aqui daqui uns cinco dias. Bom para trabalhar, experimentar receitas, tomar banho com a porta do banheiro escancarada e mergulhar no silêncio. Delicioso. Meus livros empilhados.

Telefone chamando. Não vou. Terminando a redação, corrigindo crases, formatando as citações. Nem chá, nem café. Meu banho de gigante e a barba por fazer.

Gonzagão.

4 Comments:

Blogger kellen said...

Feliz ano novo! Se eu ligar você atende? hehe
Besitos

12:27 PM  
Anonymous Anônimo said...

O samba do paçudo ruivo é qualquer coisa! Hahahaha!
Inclusive me inspira um novo codinome, que eu implico com este thegun bélico. Posso te chamar de ruivo? que tal?
De todo modo, boa sorte aí neste momento pré parto, que tem angústia e delícia como você bem descreveu. Tô aqui torcendo pela dissertação, pelas entrevistas, pelo Josef, por você.
Aquele Abraço!

2:47 PM  
Blogger Bia said...

Banho de gigante...?
até hoje é o melhor!

11:48 AM  
Anonymous Anônimo said...

Há tempos vejo seu blog.
Puta que pariu como vc escreve bem. Dá vontade de ler, ler, ler, ler, ler e não parar mais.
Já pensou em publicar algum livro de contos? Você tem talento. Beijo.

7:42 PM  

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