quinta-feira, abril 20, 2006

Mar de Mármara

Onde as coisas ancoram
Onde as coisas demoram
Algum tempo
Antes de partir

Alberto Martins



Apagando as luzes. E o frio acentua ainda mais o silêncio. Encerrado em um silêncio escuro e frio. Sem metáforas.

Eu.

Em Julho quero ver o mar. Eu vou. Um mês inteiro olhando as ondas que, imagino, estarão cinzas.

Cinzas de cigarro. Quarta-feira de Cinzas.

Quero perder meu olhar no horizonte buscando, assim, um cais para minha vida sem horizontes. Uma dúzia de livros, coquetel de aspirina com whisky e muita, muita saudade.

(De um tempo em que...)

Agora é carreira solo, sem palco, sem sombra, sem descoberta. E a linha que separa minha doçura da barbárie é tênue, singela e frágil. Gagá. Não sei onde começa o poeta e termina o bicho.

Comendo o rabo da sereia.

Onde as coisas ancoram, onde as coisas demoram, eu estou. Tudo de passagem e eu estou. Passam os moços, as águas, cardumes e namoradas. Passa amor, Januária, violão e muita vontade de abraçar. Europa, estrelas, foguetes, passam as luzes, os sonhos, as noites, o diabo... Estou.

Estou.

Estou esperando e cansado de esperar. Enquanto caminho penso em fugir. Enquanto almoço penso em cicuta. Enquanto durmo, sonho com você.

Esperando.

Minha vida cinza olhando o mar. As velhas ondas que lambem a terra estarão aqui, ainda lambendo, quando a espera acabar e o tempo dobrar e o longe chegar e as tolices escritas deixarem de importar.

Daí eu não serei mais eu.