Mar de Mármara
Onde as coisas ancoram
Onde as coisas demoram
Algum tempo
Antes de partir
Alberto Martins
Onde as coisas demoram
Algum tempo
Antes de partir
Alberto Martins
Apagando as luzes. E o frio acentua ainda mais o silêncio. Encerrado em um silêncio escuro e frio. Sem metáforas.
Eu.
Em Julho quero ver o mar. Eu vou. Um mês inteiro olhando as ondas que, imagino, estarão cinzas.
Cinzas de cigarro. Quarta-feira de Cinzas.
Quero perder meu olhar no horizonte buscando, assim, um cais para minha vida sem horizontes. Uma dúzia de livros, coquetel de aspirina com whisky e muita, muita saudade.
(De um tempo em que...)
Agora é carreira solo, sem palco, sem sombra, sem descoberta. E a linha que separa minha doçura da barbárie é tênue, singela e frágil. Gagá. Não sei onde começa o poeta e termina o bicho.
Comendo o rabo da sereia.
Onde as coisas ancoram, onde as coisas demoram, eu estou. Tudo de passagem e eu estou. Passam os moços, as águas, cardumes e namoradas. Passa amor, Januária, violão e muita vontade de abraçar. Europa, estrelas, foguetes, passam as luzes, os sonhos, as noites, o diabo... Estou.
Estou.
Estou esperando e cansado de esperar. Enquanto caminho penso em fugir. Enquanto almoço penso em cicuta. Enquanto durmo, sonho com você.
Esperando.
Minha vida cinza olhando o mar. As velhas ondas que lambem a terra estarão aqui, ainda lambendo, quando a espera acabar e o tempo dobrar e o longe chegar e as tolices escritas deixarem de importar.
Daí eu não serei mais eu.
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