quinta-feira, março 16, 2006

Caminha assim de lado

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Ela é tudo que me sobra
Viver vai ser a nossa última obra

Dor Elegante
Itamar Assumpção / Paulo Leminski

Insônia. No canto da cama, misturado entre roupas sujas, espero. Barulho do ventilador. Insosso.

Abrindo lugar na mesa, bebendo whisky para livrar a língua do gosto de alho, procuro escrever uns versos. Coisas pequenas, mas dá vontade de torrar papel e caneta até passarem todas as saudades ou secar a garrafa.

Memórias de carnaval. Olhando pro mar, com Lua e calor, cansei de sentir as mãos atadas. Não tinha ação, sem saber muito que fazer. Temperando a boca com cigarrilhas, era olhar o mar e deixar o pensamento solto, buscando atenção.

E o seu resgate não veio.

S.O.S. e sinais de fumaça. Deve haver uma árvore, um mocinho, um bandido? Um país? A vida não está certa nem errada, mas indecisa.

Luzes apagadas e Zélia Duncan baixinho. O que a gente faz quando começa a esquecer o gosto bom de ter pra quem telefonar nas vezes em que as horas não passam?