sexta-feira, março 24, 2006

Falando francamente

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando os pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Tabacaria
Fernando Pessoa


Falando francamente, sinto um amargor que faz calar. Não é um soco no estômago ou uma pontada na alma – é um amargo gosto em tudo. Não basta saber no que fracassei, ultrapassa este entendimento.

Por vezes acho que vai ser sempre assim. Na verdade, acho sempre. Além da literatura e do cantil de whisky, está difícil desejar mais.

Teve a pesquisa e eu pensei que seria um bom pensador. Hoje tenho vergonha de meu orientador que penso ter desapontado. Logo eu que gosto tanto de refletir, tenho ponderado se sou qualificado para esta vida.

Quem sabe...

Numa tarde eu estava vestido de cores claras, com uma calça de linho e camisa de algodão. Um Sol na cabeça... Lembrei de algumas pessoas que acabei me afastando e do quanto sinto falta delas.

Parei. Fui pensar na sombra.

As pás do ventilador misturam o ambiente. É o único som da madrugada. Bom pra esticar as pernas e desabar no chão frio. Bom pra deixar a cabeça aberta, pedindo para as idéias saírem e o tempo dormir. Bom pra sentir o pulso e a respiração, saber que aqui algumas coisas ainda funcionam e importam.

Aos meus amigos que sentem a minha falta. Ao meu mestre que tinha expectativas. Aos meus livros que desejam serem lidos. Ao meu fracasso frio e insosso.

Dedico várias madrugadas de silêncio.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

caracas seu thegun.
Não tome uísque. Conheci um cara que ficou alcólatra assim.
Abraços,

7:39 PM  

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