EMPREITADA AMOROSA
Ella me daba la mano y no hacía falta más. Me alcanzaba para sentir que era bien acogido. Más que besarla, más que acostarnos juntos, más que ninguna otra cosa, ella me daba la mano, y eso era amor.
LA TREGUA
mario benedetti
Passei boa parte da tarde ouvindo Nelson Cavaquinho. Ouvi tudo que tenho, música por música, arruinado no chão do quarto entre três ou quatro volumes de sociologia que voltei a beliscar. Também estava entre nós o Animal Tropical, do Pedro Juan Gutiérrez, meu novo vício. E fiquei rolando, batucando na barriga e cantando os velhos sambas como se fossem meus.
Ontem recebi dois telefones deliciosos que me resgataram da nebulosa introspecção. O primeiro toque do telefone era de meu orientador, pedindo minha presença na USP na próxima semana. Estava amoroso e contente e falamos algumas besteiras antes de entrarmos na seriedade dos trabalhos acadêmicos. De forma geral ele me animou e disse que meu texto está interessante e original. Isso massageou meu combalido ego. E agradeceu o cd do Adoniran que lhe enviei.
O segundo telefonema também começou com assuntos científicos, mas logo descambou para a loucura amada concreta solitária sutil cruel estúpida do mundo contemporâneo. Uma doce amiga de Sampa, também historiadora, conseguiu me espantar o sono e ficamos tagarelando por um bom tempo. Contou novidades da capital e compartilhamos angústias acadêmicas, sempre tão humanas. Disse-me que está junto com outro colega numa empreitada amorosa, maneira estranha de contar que estavam namorando. Na verdade, nem é tão estranho, pois ambos são tão conscientes das ilusões do amor que a idéia de uma empreitada é bastante acertada. Eu, quando escuto esta palavra, me lembro da aventura portuguesa, se lançando ao mar em caravelas e vindo foder índios na Terra Nova. E desta empreitada se fez minha nação, de uma interminável fodeção antiética para enriquecer culturas alheias. Mas a empreitada deles é bem diferente, envolve risco, mas está entorpecida do gostar e de um auto-reconhecimento que me deixou emocionado. Bacana!
Hoje o dia foi estúpido e tudo o que eu queria era uma companhia para ir ao cinema. Como afeição é artigo raro nesses tempos, voltei ao meu mundinho de introspecção, sabendo que nestes limites esqueço da solidão e viro rei das minhas vontades. Pela manhã resolvi atender um pedido de minha mãe e comecei a organizar uns papéis que estavam espalhados por todo chão, buscando colocar uma ordem em tudo. Em vão. Despachei uma papelada para um congresso e voltei a mexer num artigo que estou trabalhando. Preciso publicar qualquer merda, urgente!
Agora estou aqui, como um ocidental civilizado, de banho tomado, navegando na internet. Descasquei um abacaxi e segui comendo a fruta até a acidez abrir feridas no céu-da-boca, me obrigando a cuspir sangue. E na minha revolta latina entornei um copo de cachaça mineira, presente de um amigo querido. Foi tudo, rasgando, riscando fogo! Não consigo mais ver muita graça na TV e acabo sempre me rendendo à música, alternando Miles com Cartola, Ira! com Ibrahim Ferrer, e por aí vai. Quando assusto já estou no meio da madrugada com os olhos ardendo de tanto ficar escrevendo no computador.
Nessas horas eu tenho muita vontade de sumir, perdendo tempo examinando uns guias de viagens. Absolutamente ridícula minha solidão e, na esteira, meu aborrecimento. Estou cansado do meu silêncio e do meu incômodo. Tudo que quero é respirar e respirar e respirar. Sair desta cidade infame, aumentar o volume do rádio e voltar a me sentir um homem gostoso.
LA TREGUA
mario benedetti
Passei boa parte da tarde ouvindo Nelson Cavaquinho. Ouvi tudo que tenho, música por música, arruinado no chão do quarto entre três ou quatro volumes de sociologia que voltei a beliscar. Também estava entre nós o Animal Tropical, do Pedro Juan Gutiérrez, meu novo vício. E fiquei rolando, batucando na barriga e cantando os velhos sambas como se fossem meus.
Ontem recebi dois telefones deliciosos que me resgataram da nebulosa introspecção. O primeiro toque do telefone era de meu orientador, pedindo minha presença na USP na próxima semana. Estava amoroso e contente e falamos algumas besteiras antes de entrarmos na seriedade dos trabalhos acadêmicos. De forma geral ele me animou e disse que meu texto está interessante e original. Isso massageou meu combalido ego. E agradeceu o cd do Adoniran que lhe enviei.
O segundo telefonema também começou com assuntos científicos, mas logo descambou para a loucura amada concreta solitária sutil cruel estúpida do mundo contemporâneo. Uma doce amiga de Sampa, também historiadora, conseguiu me espantar o sono e ficamos tagarelando por um bom tempo. Contou novidades da capital e compartilhamos angústias acadêmicas, sempre tão humanas. Disse-me que está junto com outro colega numa empreitada amorosa, maneira estranha de contar que estavam namorando. Na verdade, nem é tão estranho, pois ambos são tão conscientes das ilusões do amor que a idéia de uma empreitada é bastante acertada. Eu, quando escuto esta palavra, me lembro da aventura portuguesa, se lançando ao mar em caravelas e vindo foder índios na Terra Nova. E desta empreitada se fez minha nação, de uma interminável fodeção antiética para enriquecer culturas alheias. Mas a empreitada deles é bem diferente, envolve risco, mas está entorpecida do gostar e de um auto-reconhecimento que me deixou emocionado. Bacana!
Hoje o dia foi estúpido e tudo o que eu queria era uma companhia para ir ao cinema. Como afeição é artigo raro nesses tempos, voltei ao meu mundinho de introspecção, sabendo que nestes limites esqueço da solidão e viro rei das minhas vontades. Pela manhã resolvi atender um pedido de minha mãe e comecei a organizar uns papéis que estavam espalhados por todo chão, buscando colocar uma ordem em tudo. Em vão. Despachei uma papelada para um congresso e voltei a mexer num artigo que estou trabalhando. Preciso publicar qualquer merda, urgente!
Agora estou aqui, como um ocidental civilizado, de banho tomado, navegando na internet. Descasquei um abacaxi e segui comendo a fruta até a acidez abrir feridas no céu-da-boca, me obrigando a cuspir sangue. E na minha revolta latina entornei um copo de cachaça mineira, presente de um amigo querido. Foi tudo, rasgando, riscando fogo! Não consigo mais ver muita graça na TV e acabo sempre me rendendo à música, alternando Miles com Cartola, Ira! com Ibrahim Ferrer, e por aí vai. Quando assusto já estou no meio da madrugada com os olhos ardendo de tanto ficar escrevendo no computador.
Nessas horas eu tenho muita vontade de sumir, perdendo tempo examinando uns guias de viagens. Absolutamente ridícula minha solidão e, na esteira, meu aborrecimento. Estou cansado do meu silêncio e do meu incômodo. Tudo que quero é respirar e respirar e respirar. Sair desta cidade infame, aumentar o volume do rádio e voltar a me sentir um homem gostoso.
1 Comments:
Concordo com o modo que ela classifica um novo romance . Também acho que é uma empreitada , pois assumimos riscos , e de fato a chance de nos fodermos tem a mesma proporção com a de dar certo .
Hoje , eu me considero em uma empreitada amorosa também , pois estou conhecendo alguem,vendo seus defeitos e suas virtudes , e mostrando os meus prós e contras pra ela tambem .
Acho que essa é a coisa mais bacana do amor : Ele não é uma ciência exata . Os resultados podem ser vários e as formas de se chegar a ele são muitas . E nesse tempo vamos chorando por amor , sorrindo por amor , pensando no amor , querendo o amor , desejando...
Alex Giusti (http://giusti.zip.net/)
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