terça-feira, dezembro 14, 2004

Maresias

Hoje é o dia
Eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia
Eu fico à vontade com a sua ausência...
Eu já me acostumei a te esquecer

Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais

Tudo que vai
Dado Villa-Lobos e Alvin L


O debate continua e estou muito confuso, perdido e estéril. Não consigo opinar com minhas frases curtas e olhos semi-abertos. Aos que estão longe é dada a impressão da serenidade, mas eu conheço meus demônios. Funciona como se a vida estivesse suspensa, esperando a posse de uma nova diretoria. Não há pronunciamentos ou invasões, só o calor do Sol espalhado no terreno, tingindo paredes brancas e árvores secas.

Contudo, não é uma má vida.

Só o uso do condicional que me humilha, como se tudo dependesse apenas dele. Novamente sinto que se pudesse tudo seria diferente, o que estala ou meu engano ou minha impotência. Tanto tempo perdido estampa a incerteza: valeu a pena?

Da janela tenho o Sol. Um canto de pássaros aqui e acolá, num estéreo nativo. O mar condensa as coisas com sua alternância de espíritos e barulho constante, alto e cheiroso, fresco e corrosivo. É bom sentir a areia nos dedos queimando, sentir o gosto do sal nos lábios e a quietude da paisagem que rouba a janela.

É bom ver o mar dividindo o horizonte e explodindo nas pedras, numa luta de titã grego que eu só posso recuperar em livros.

Ainda há o silêncio. O silêncio no preparar o chá, na trilha das formigas e no espreguiçar das árvores. E como estou presente nisto, me emociono com lágrimas envergonhadas, também silenciosas.

(Uma emoção de não poder estar aqui com você.)

Não sei quanto tempo ainda vou passar por estes dias. Gostaria de um telefonema para ouvir sua voz e saber como anda o trabalho, se o Chico lançou um novo disco, se está fazendo frio aí. Falta coragem, falta atitude, falta vergonha.

Falta você.