quarta-feira, novembro 24, 2004

Soturno

o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora apenas um sopro

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos


paulo leminski


Carta da FAPESP, envio de currículos, telefones, café gelado, dor de cabeça, São Jorge Guerreiro. Ainda sobra um espaço para a corrida no final da tarde, salada de frutas e um pouco de Villa-Lobos. Sem exageros.

Estou comendo alimentos mais saudáveis, diminuindo as frituras e carnes vermelhas. Só o café e a cerveja que não tenho vontade de largar, pois entendo que estas bebidas já entraram na minha personalidade, ficando quase impossível saber quem sou sem elas. Ah, e claro, tem também um bocado de saudade!

Minha avó me ensinou uma receita de molho com tomates, alho e muito manjericão. Uma vez por semana passo umas duas horas na cozinha, fazendo molho, temperando a massa e enfeitando o prato. Um jantar que serve de terapia também.

No jardim arrumei um espaço pequeno e plantei hortelã, alecrim, cebolinha, salsinha e manjericão. Adoro manjericão e, pelo jeito, a planta também foi com a minha cara, pois o pé está lindo, forte, verde, gostoso.

Mesmo depois de tanto tempo de leitura, Flávio Josefo ainda consegue me surpreender. Que escritor fabuloso!

Meus cabelos estão crescendo novamente e estou aparando minha barba. Dois meses careca e acho que já está bom. Da última vez que fui raspar a cabeça me cortei muito.

Não abro mais minha caixa de Pandora, nem a caixa de correio, nem a porta da frente, nem o estojo do violão. Não sei do reencontro, do abraço ou do perdão; nem mesmo entendo ou espero muita coisa dos próximos dias e meses. Sigo passando sem fazer história, suando e comendo saladas, igual ao batalhão de yuppies que ocupa a Avenida Paulista.

Tanto tempo faz.

E a gente vai se importando cada vez menos com os outros. E a gente esquece dos nossos projetos e sonhos. E a gente toma comprimidos para dormir. E a gente deixa de acreditar na batucada da vida.