domingo, junho 12, 2005

Contra a invasão bárbara

A solidão do amante não é uma solidão de pessoa,
é uma solidão de sistema: estou sozinho para erigi-lo
em sistema. Paradoxo difícil: posso ser ouvido por todos,
mas não posso ser escutado senão pelos sujeitos
que têm exatamente e presentemente a mesma
linguagem que eu. Os amantes, diz Alcibíades, são
como aqueles que foram mordidos por uma víbora:
“Não querem, dizem, falar com ninguém de seu acidente,
exceto com aqueles que também foram suas vítimas, por serem eles os
únicos em condições de conceber e desculpar tudo
o que ousaram dizer e fazer quando tomados por suas dores”:
mirando bando dos “Defuntos famélicos”, dos
Suicidas de amor (quantas vezes um mesmo amante não
se suicida?), aos quais nenhuma grande linguagem
empresta a sua voz.

Fragmentos de um discurso amoroso
Roland Barthes


Fim de tarde. Chinelos, bermudas, TV sem som. Café frio, passado pela manhã.

Rabisco um poema e desisto logo. Dói como um pedaço de carne arrancada. Dói pesado e profundo. Dói sem medo.

Pego o carro e dirijo mais de uma hora. Não estaciono em nenhum lugar; dirijo cantando, devagar, me escondendo do Sol. Nenhuma pessoa conhecida.

O fim da inocência petista. Fluminense empatando com o Santos. Contos de bordel. Telefone mudo. Elis Regina. Meu rosto está horrível; barba e cabelos compridos. Queria chorar até afundar os olhos, mas não consigo.

Fragmentos de um discurso amoroso.

Mais uma volta de carro. Vou discutindo alto comigo mesmo. Meu carro não tem rádio. Paro pra ver vovó, paro pra ver sobrinha. Preciso de esperança para arranhar tanta culpa.

Nietzsche na cabeça: “Privou-se a dor da sua inocência”. Dói grande. Dói fedido. Dói fechado e culposo.

Dói a certeza do “nunca mais”.

(Aguardo o fim do medievo. Quem sabe um novo corte de cabelo? Não posso mais me assassinar.)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

com qual direito uma pessoa arranca de você seus melhores sentimentos, seu melhor sorriso, melhor tempo e o que resta de seu coração e simplismente vai embora ?

vira as costas, sem adeus e você fica atônito com a boca seca , sem lágrimas pq elas já não existem mais.

acabou mais um amor que um dia pensei ter existido.

perdi a fé nas pessoas. preciso de uma vida nova. vamos beber.

10:44 PM  

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