sexta-feira, maio 27, 2005

Camisa amarela

Ao final sempre ganha a morte, porque
tem menos pressa do que a vida e
também menos vergonha.

Camilo José Cela



Criou coragem, ligou e fez o convite. Era hora do almoço, sabia que iria encontrar com ela em casa. Mesmo assim, chamou pelo celular. Minutos de excitação, conversaram bem. Tudo acertado.

Passou um café novo e ficou fumando, um tempo, olhando o movimento da rua. Saiu com o carro, alugou dois filmes e enfrentou o supermercado. Odiava filas. Comprou vinho, frutas e sorvete de creme. Queria whisky, mas não tinha dinheiro para uma boa garrafa.

Tomou um demorado banho. Lavou bem o pau, os braços, as orelhas. Escovou os dentes muitas vezes e, vagarosamente, aparou a barba. Perfume sutil. Escolheu uma camisa alegre.

Descascou todas as frutas, fazendo uma salada fresca e colorida. Cozinhou a calda de caramelo, meteu suco de laranja, amassou baunilha. O vinho não precisava de geladeira. Esperou.

Ela não veio.

(De repente sentiu-se solidário aos restos e cascas de frutas entulhadas na pia.)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caray, estás leyendo a un paisano mío? No recuerdo de que libro es la frase pero "La Colmena" es una novela maravillosa.

Besos, caracola.

6:09 AM  

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