quinta-feira, janeiro 19, 2006

Chão de estrelas



Nunca imaginei estar entre pessoas importantes, mas já estive. Hoje estava navegando pelo site da USP. Consegui assistir aulas de grandes professores e freqüentar boas bibliotecas por quase uma década. Estas foram boas provas da genialidade humana que eu consegui colecionar. Estive durante um doce período de minha vida entre valorosos intelectuais.

E as cidades? Viaduto do Chá ou Santa Ifigênia, pouco importa: sempre que conseguia uma brecha durante a semana corria para o centro de São Paulo, bem vestido, na maior parte das vezes com um paletó surrado marrom. Dali cortava até o Mercado, Pátio do Colégio, Sé, Quintino Bocaiúva, Abdu Schain... Acabava preso pela boca, parando em alguma padaria, mordiscando pão e esfriando o café. Nas noites eu sentia samba, mesmo branquinho. O Bar do Geraldinho, no Bixiga, era a partida, engolindo as doses de jurupinga com gelo. No samba da Vila Madalena eu conhecia todo o itinerário que possivelmente terminaria no Sem Saída. Mandioca frita com cerveja. E samba.

O Rio surgiu alguns pares de vezes, com direito ao sanduíche do Cervantes e almoço no Lamas. Quase nunca queria saber da praia, mais interessado em ficar hospedado na Rua do Resende, bem perto do Bar das Quengas e de muitos sebos de livros. Dali eu andava até a Rua da Carioca pra comer comida alemã no centenário Bar Luiz. Adorava observar, quieto, a vida do carioca, o jeito dele pedir a bebida, a forma como comentava os gols da rodada e, claro, a constatação de minha paulistanidade. E era bom descobrir, em cada quadra, um novo tipo, novo prédio, nova cor, novo paladar.

Mulheres não foram muitas, nem poucas, mas na medida que eu pude agüentar e entender um pouco de seus mistérios. De nenhuma delas eu me arrependo, lembrando de como sempre foi delicioso entrar em íntimas relações. Nunca fácil.

Amigos não foram tantos, mas fiéis o suficiente para estarem comigo, mesmo na distância, até agora. Aprendi que com eles eu não preciso me preocupar com explicações ou loucuras: simplesmente é.

Nem sei por qual motivo comecei a escrever isto. Posso desconfiar. Quero saber se valeu a pena, ainda mais se hoje muito disto é passado.

Não vou responder, pois nesta noite quente e melancólica eu desejo, humildemente, me contentar com a dúvida.

3 Comments:

Blogger kellen said...

Que bom, blog movimentado!

10:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por favor, escreva um livro para eu deixá-lo no criado mudo após ter lido inúmeras vezes. Cada vez melhor.

5:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Adoro este espaço!

4:01 PM  

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