sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Lost in Translation

Virtù contra furore
Prenderà l’arme; e fia el combatter corto,
Che l’antico valore
Nell’italici cor non è ancor morto
O Príncipe
Niccolò Machiavelli


Semana longa. Fico feliz que ela tenha terminado. Como recompensa me dedico ao prazer: jurupinga temperada com gelo, narguilé abastecido e um cd bacana de uma banda gringa: Phoenix. Não sei da noite e nem estou preocupado. Carrego uma sincera vontade de desaparecer por uma temporada.

As aulas já começam. Nem bem coloquei o ponto final no texto da dissertação e já me sujo com pó de giz. Literalmente. Estou muito cansado para lidar com alunos, com professores, pedagogas e pais. Existem momentos que entro em pânico quando me lembro que vou lecionar para crianças e adolescentes, enfrentando problemas com autoridade. Não sei se nasci para isto.

Estive na USP terça-feira passada. Muita emoção, não apenas porque fui depositar os exemplares da dissertação e marcar o exame de defesa, mas sim pelas lembranças. Sentia-me em casa e, ao mesmo tempo, distante. As pessoas mudaram muito, os prédios e bibliotecas também, assim como São Paulo estava confusa e indiferente. Estou com medo de não conseguir voltar para a academia e de continuar isolado do debate e dos livros. Estas coisas realmente fazem falta, não é discurso.

Passar pela cidade, pela universidade e pelos corredores de minha faculdade mexeu com meu coração. Fiquei emocionado, mas também acuado. Uma crise de pertencimento, acho, fazendo valer meus estudos de mestrado. Difícil compreender, mas sei que vou passar por um tempo de confusão e solidão. Sem problemas: colecionei alguns bons autores, poemas e canções. Só que o medo persiste, forte e pulsante, querendo se tornar uma certeza.

Justo agora que não consigo ter certeza de coisa alguma!

Dúvidas e doses generosas de bebida. Não faço um bom coquetel e nem boa companhia. Os personagens da literatura são mais interessantes e engajados na vida do que meu cotidiano. Sem pressa. Nunca fiz o tipo de galã.

A saída é a mesma que venho utilizando nos tempos de ausência de sonhos e projetos: montar meu cavalo cansado e partir atrás dos moinhos de vento. E apesar do desencanto, acabei aceitando que esta é a minha maior habilidade. Sem hesitação, dia após dia, caminhando. Irremediavelmente

Eu sei.