segunda-feira, agosto 16, 2004

O Anti-Kitsch

Eu sou uma metralhadora em
estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto.
poema vertigem
roberto piva

Se digo “totalitário” é porque, nesse caso, tudo aquilo que ameaça o kitsch é banido da vida: toda manifestação de individualismo (toda discordância é uma cusparada no rosto sorridente da fraternidade), todo ceticismo (quem começa duvidando de detalhes acaba duvidando da própria vida), a ironia (porque no reino do kitsch tudo tem que ser levado a sério), e também a mãe que abandona a família ou o homem que prefere os homens às mulheres, ameaçando assim o sacrossanto “amai-vos e multiplicai-vos”.

Sob esse ponto de vista, aquilo a que chamamos “gulag” pode ser considerado como uma fossa sanitária em que o kitsch totalitário joga seus detritos.

a insustentável leveza do ser
milan kundera

Não entendo. Entendo, claro. Mas não entendo. Ou entendo e quero tornar as coisas mais fáceis e perdoáveis para mim mesma. Argh. Preciso é dar um jeito de arrumar o caos que eu sou.
máquina de pinball
clarah averbuck



Eu imaginava que voltando para Limeira teria mais equilíbrio mental para escrever os capítulos da dissertação. As coisas essenciais da vida estão mais práticas, pois não tenho que me preocupar em cozinhar, lavar roupa e visitar supermercado. Tenho tempo e conforto para trabalhar, com Internet, TV, passarinho, árvores, mato... Estou no interior do Estado! Imaginava e acreditava que em Limeira teria mais equilíbrio e saúde mental. Eu estava errado.

A solução já foi apontada por algum gênio: trabalho, música e literatura. Fico fechado neste trio, passando de um para outro, misturando, anotando, batucando... Uma esticada nas costas... Café... Saudade.

Faz tempo que não tomo um porre de declarar guerra civil. Meu corpo está estranhando a qualidade dos dias, com salada de alface, barra de cereal, suco natural e pencas de bananas. Nem um charuto, vodca, caldo de feijão ou sanduíche do Centro de São Paulo. Estou quase um hippie, quase um xamã. Mas permaneço atento, escondi minha coleção do Belchior e do Beto Guedes, aprendi a fritar calabresa com picles e alterno punk-rock, Abba, Nelson Cavaquinho com música tradicional judaica. Um esforço tremendo para não se acomodar e repousar nos louros da civilização.

Por vezes fico pensando nos erros que cometi e assim permaneço por um bom tempo, em silêncio. Não são reflexões fáceis e nunca consigo entender o que sinto. Francamente, sei que sou um homem bastante confuso. Por vezes desejo ser diferente, mas sei que não tenho muita escolha, acreditando ser uma ilusão pensar que minha vida poderia ser outra. A vida é uma só, não é mesmo? Sem rascunho, ensaio ou tentativa, a vida é só esta. O tempo precioso que estou gastando em escrever este texto e você em ler é único. Por isso pense bem se vale a pena passar os olhos por ele.

Gostaria que tudo fosse diferente e que eu voltasse a ter um milhão de amigos. Isto seria ótimo. Sinto saudades de muitas coisas, situações e pessoas, mas principalmente do tipo de homem que já fui. Carregava uma imensa vontade de tocar a bola, independente do perigo, e uma admiração sincera por gente real, que dava pra tocar e conversar. Era curioso e encantado, sempre com uma boa idéia para colocar em prática e muitos planos que nunca saiam da cabeça. Sinto muita saudade dos planos, já que eles me faziam olhar pra frente.

Nada poderia ser diferente. Estou de pé e continuo escrevendo, lendo e ouvindo muitas coisas. Coisas ruins, coisas boas, mas quero ser mais seletivo. Penso na falta da cidade e compreendo que me tornei uma assombração urbana no discurso que insisto em sustentar. Gostaria de uma segunda chance, mas isto não acontece na vida real, sem personagens de novela. E não posso voltar, tendo vontade de ir e ir e ir e ir e ir...

Tampouco consigo entender em qual estação devo saltar e se estou fazendo a coisa certa. Certamente eu nunca vou saber responder estas perguntas. Penso em cerveja de trigo e aparece um sorriso tímido no canto da boca. Acabou do cd do Miles Davis. Onde coloquei o da Cindy Lauper?

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

CINDY LAUPER!!!!!!!

12:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ontem tb encontrei um amigo antigo . Pra falar a verdade , amigo de infancia . Fazia uns 12 anos que eu nao o via . Era um amigo dos tempos de moleque , de jogar bola na escola . O cara ja é pai . A filha dele já fala . Tenho sorte de poder pelo menos falar pra ele que eu namoro pra nao passar tantar vergonha na frente dele . Pra variar , perguntou do Zé Renato . Todos os meus amigos quando me encontram lembram daquela besta do Zé .
Senti uma nostalgia . Uma tristeza até . Lembrei dos amigos do passado e de como a amizade daquela epoca era sincera .
Hoje tenho poucos amigos para colocar a mão no fogo . Voce é um deles , o qual sou admirador confesso , pelos risos e choros que compartilhamos .
Sei que a vida é foda . A gente nunca consegue estar 100% alegre . E nem 100% triste . Ainda bem .
Mas foi muito bom rir com vc e nosso amigo franco-hispânico homossexual sábado . A sintonia é grande. Lembro de comermos o lanche no Fassina e fico rindo sozinho . Acho que a vida é legal por isso . Por momentos de gula , luxúria e falar mal dos outros . E isso fizemos com maestria .
Afinal , somos sujeitos CALMOS e prezamos por isso ahahahaha

Abraços,
Alex Giusti

1:02 PM  
Blogger Lomyne said...

Já dizia o gato de Alice: se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve e todos eles te levam a lugar nenhum... Já pensou exatamente pr'onde vc quer ir?

E sobre as pessoas à sua volta, num sei não, mas acho que acreditar em todas (ou quase todas) é equação sem solução.

No som, coloque Janis Joplin...

1:08 PM  

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