terça-feira, setembro 21, 2004

Cama Elástica

A tarde precipita sua cor
cai, no começo
no princípio da noite
e o que ainda aqui resiste
meio fera, ao precipício
ficou na beira da taça
que não suporta mais
sequer um riso
pois todo cristal está sempre
na iminência, um minuto antes
de partir.
3 X 4
armando freitas filho
Estou terminando um relatório acadêmico, o último do mestrado. Falta pouca coisa, uma página, pouco mesmo. Só que pra mim sempre foi mais difícil terminar do que começar, e isto em tudo. Difícil fechar um texto, concluir uma conferência, terminar um show, encerrar uma amizade e ter que desistir de um amor. Difícil terminar, não começar.

Meu trabalho de pesquisa está terminando mais por força das instituições do que por meu desejo ou consciência. Sei que posso ir mais longe com ele, ler mais, escrever mais, só que agora chegou o momento de finalizar, refletir e, de alguma forma que eu ainda não descobri, colocar um ponto final no texto.

Penso que esta dificuldade encontra sua lógica no seguinte raciocínio: quando vamos iniciar algo sempre lidamos com o novo, com expectativas, com sonhos, com desejos. Quando vamos terminar algo, por mais que ela tenha sido positiva, temos que nos reencontrar com o que deu errado e pensar os motivos disto.

Mas isto não é bom? Esta reflexão não é necessária?

Acredito que sim. Na verdade meu problema não está em refletir meus acertos e erros, e sim em observar o tipo de homem que estou me tornando com todos estes começos e fins. Hoje sou o cidadão do fim, enfrentando uma fase da vida em que tenho que estruturar muita coisa (até sentimentos) e tomar decisões para preparar um terreno futuro. O problema é que a gente nunca sabe muita coisa desta palavra futuro! É mergulhar no incerto torcendo pra existir uma cama elástica em nossa direção.

Segunda passada eu estava em São Paulo. Por uma pancada de motivos estava atordoado, inseguro e assustado, sentimentos que senti poucas vezes naquela cidade. Sampa consegue roubar um pouco das minhas angústias e acabo relaxando; mas desta vez não conseguia espaço ou lugar para descansar, desabar os ombros e esquecer do que seria saudável esquecer. No meio da manhã tudo o que eu procurava era um abraço apertado e um silêncio de grandes amigos, estar com alguém e conseguir festejar o encontro sem ter que dizer, fazer ou pedir nada. Acabei no café da Letras, pois lá fica ligado um televisor passando desenhos animados.
Agora procuro coragem para terminar o relatório. Imprimir, entregar para FAPESP e lidar com todos os processos burocráticos de uma prestação de contas. Ainda há tanto para fazer...

Mais tarde descolo um tempo e escolho um cd bem bacana. Apago a luz, ligo o som, afundo na cama e recomeço a sonhar. Vou em frente.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bom saber que tem desenho animado na Letras,pois não aguento mais almoçar sozinha nas sextas olhando para a rampa na esperança de vc aparecer pra almoçar comigo. Tô com saudade.
Rita

6:02 PM  

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