domingo, março 06, 2005

A história do ex melhor amigo

Cobras cegas são notívagas.
O orangotango é profundamente solitário.
Macacos também preferem o isolamento.
Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.
Andorinhas copulam no vôo.
O mundo não é o que pensamos.
História Natural
carlos drummond de andrade



Ele era meu melhor amigo. Companheiro.

Tudo que fazia eu amava da forma mais especial possível numa relação de amizade: com admiração!

Perfeito. A gente saia pra beber cerveja com o dinheiro contado. Gostávamos de conversar sobre cinema, política e de música. Mulher não, pois nossos gostos eram bem diferentes. Trocávamos cartas quando ainda não existia e-mail em nossos mundos. Continuamos com os envelopes depois da conexão: era pra ver as letras, sentir o papel.

Daí teve um dia que a gente brigou. Na verdade não teve um dia, e sim quase um ano que a gente procurou se magoar, mas sem ultrapassar o limite dos amigos de outrora, novíssimos conhecidos ou colegas. Agora sim, houve um dia que a gente brigou. E feio.

Não teve mais amizade.

Passou um bom tempo e nós não conseguimos mais conversar sobre cinema, política e música. Horrível quando isto acontece e você não sabe bem o que fazer com o batalhão de fotografias espalhadas pelo quarto, ou quando sua mãe pergunta porque ele nunca mais apareceu ou ligou.

- Não sei, mãe! Deve estar ocupado...

Na verdade, a gente sempre sabe. E estamos quase sempre ocupados.

Hoje estou um tanto confuso e solitário. Sinto falta de telefonar pra dizer que existem coisas que não estão indo bem, que estou cansado, muito atrapalhado e que gostaria de sair pra beber cerveja barata.

E falar de cinema.