sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Coisas do Brasil


Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia
Vamos Fazer Um Filme
renato russo


Rabiscando os bloquinhos, folheando os livros, anotando pequenas observações. Tudo bem. Só é ruim quando tenho que preparar uma aula sobre algo que realmente não acredito mais. Mas o que posso fazer? Está na apostila, com questão da FUVEST e tudo.

O carnaval foi, sim senhor, bem divertido. Teve cerveja, cachorrinhos, picles, Cristina Buarque (muito melhor do que qualquer cantora do gênero da Marisa Monte), Ana Rita, guia de Porto Alegre, banho gelado, gelatina de morango, Maria Beatriz, travesti loira, Elizeth Cardoso (a divina!), Alex Giusti e batida de limão. De quebra, rolou um rock básico do Bidê na sonatinha, um pouco de trabalho durante as tardes e vontade de beijar uma ex-namorada. Coisas do Brasil.

Ando lendo muitos textos que encontro em blog’s brasileiros. Tenho colhido coisas ótimas, engraçadas ou tristes, mas todas fortes e bem escritas. Mas o que gostaria mesmo de refletir é que estou assustado com o avanço yuppie no pessoal que produz estas narrativas. Geralmente são muitos bons, repito, mas de um conservadorismo camuflado em inquietações e ironias. Não sei, mas acho tão fácil seguir nesta linha, uma tradição tão próxima da caricatura que podemos fazer dos pensadores latinos que odeiam a América Latina e que, no Brasil contemporâneo, encontram sua expressão no Diogo Mainardi. Isto é tão ruim, pois vejo um grande número de jovens adultos que escrevem praticamente a mesma coisa, no mesmo esquema com o mesmíssimo fim didático: esculhambar qualquer projeto coletivo e coroar a invenção do indivíduo. Fica ruim dar o contraponto, recebendo uma maquiagem de exagerado ou trágico. Fica ruim ter que escrever retido na “imparcialidade” da Folha de São Paulo e na incumbência de ser bem resolvido e discretamente feliz o tempo todo.

A Ana e a Maria estiveram aqui no exílio por toda uma tarde. Presentes, notícias da Cuca, música latina, cervejinha, cigarros e macarrão com molho de tomate e manjericão. Bom demais! Conversamos e só fiquei triste quando vi que era o único dos confidentes que não estava apaixonado. É horrível não sentir as palpitações, ereções, desafios, promessas, incertezas e excitações próprias deste estado. O mundo não surgiu da explosão cósmica só pra ser racionalizado, enfim. E antes voltar a tocar Maysa no violão do que permanecer sentado nos botecos, com minha camiseta Hering azul, achando que tudo está médio. O bom é que os olhos das minhas duas amigas estavam quentes, úmidos e iluminados quando falavam de seus sonhos. E vi tudo aquilo com tanto carinho que não consegui dizer nada, e nem poderia. Calei pra não estragar os belos brilhantes.

Com os prazos da dissertação estourando, estou nervoso e ansioso como não ficava há tempos. As estratégias e terapias para ajudar a cabeça funcionar continuam fazendo bem e fico tranqüilo com isto. Engraçado que não penso em terminar o mestrado para descansar ou sumir, de vez, da Babel que é o mundo acadêmico. Desejo mesmo é começar uma nova pesquisa, com outras questões, caminhos e angústias que estou convencido de suas importâncias. E é neste ponto que, hoje, eu me assento: fechando pontas para desatar outras. É difícil, não há mesmo como viver tanta mudança e pressão sem sentir o peito amarrado em muitas incertezas. Só que agora eu tenho algumas músicas para cantar, uma pesquisa pra concluir, um dinheiro pra bebida e uma ninhada de cachorrinhos pra cuidar.

1 Comments:

Blogger renata said...

Degã, acho que você tem razão quanto ao conservadorismo disfarçado espalhado por aí. Eu sou assim, acho. Mas acho também que não é preciso levar as coisas tão a sério, rapá. Muitas pessoas fazem blogs para um simples exercício de escrita, desinteressado.
Sei lá, eu já passei tanto tempo da minha jovem vida em depressão (isso é verdade, mesmo), por isso não desejo nada além de usar meu espacinho virtual para coisas como piadinhas e observações sobre minha "vidinha alegre". Se eu não fizer isso, eu não me levanto da cama de manhã.
Mas você tem razão, repito. E é bom que pessoas como você estejam fazendo blogs, para garantir a qualidade de textos e a "não-mesmice". Por isso, continue, continue!

12:16 PM  

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