quinta-feira, janeiro 13, 2005

A evolução das espécies

Decidindo renunciar ao estado, o sujeito se vê, com tristeza, exilado de seu Imaginário.
Fragmentos de um discurso amoroso
roland barthes
Acho que perdi o jeito” – penso, olhando minhas mãos brancas e vazias. Vazias de fé e de acontecimentos.

Passou a ansiedade, o vento, o Viaduto Santa Ifigênia e a visão do paraíso. Passou a estrada de terra, a escadaria branca, o mingau de aveia, a canção de torcer o espírito. Passaram as galeras de amigos, as moças bonitas, os motes de poesias, as estantes de livros. Passou tanta poeira, tanta dor, tanto esquecimento.

Que hora é agora? Que tempo faz? Que vida bate?

Passou tudo, menos o exílio que não é da terra, da fonte, do pensamento. O exílio é um pedaço do sentimento, pequeno e avarento, só que forte o bastante pra nos forçar pequenos e avarentos. Ele deforma nosso rosto com tantas ponderações, hesitações, competições. Silencia a criação, assim como deturpa a falta que a gente sente, transformando a saudade numa coisa grotesca e não mais numa preciosa lembrança.

Agora estou tão pequenino e retorcido que mal posso carregar minhas memórias, antes estocadas num baú enfeitado que eu guardava no coração. E na evolução das espécies, eu aprendi o mais novo truque: engolir em seco.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Calma, rapá, calma. As coisas vão se encaixar.
Renata (garatujas e garapas)

12:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

Me auto critico constantemente por não estar lendo os clássicos da literatura e estar vendo tv demais, mas quando leio seu blog volto a me sentir em contato com a sensibilidade que só um bom livro pode nos dar...
Rita

2:42 PM  

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