quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Sociologia de caderneta

Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia

Lola
chico buarque
Ano novo e retomo o hábito de organizar novíssimas anotações. Além da agenda bacana que ganhei do Luis Rosa (ecologicamente correta, com papel reciclado e linda), descolei um calendário de parede e uma caderneta de índice telefônico, que se tornou o meu xodó da estação. Pequenina, com capa azul forte, estampa uma exclamação precedida da palavra PAZ. Grafadas em branco.

Final de tarde e me ocupo passando os números de telefone da caderneta antiga para a nova, azul e branca de 2005. Assim aproveito para limpar minha mesa e gavetas com dezenas de papéis com números, direções e endereços anotados. Tudo vai pra caderneta azul.

Engraçado. Nesta simples atividade de organizar um índice telefônico pessoal, notei três mudanças interessantes. Praticamente todos os meus amigos e colegas agora estão com celular. Todos eles com o aparelho que, realmente, está substituindo o telefone fixo de alguns. A revolução do pré-pago!

Novos números fixos também apareceram nesta passagem de ano, assim como outros sumiram. O do meu antigo apartamento de Sampa foi um dos que tive que deixar nas páginas antigas, não sem manifestar uma grande frustração. Já os telefones que apareceram são motivo de orgulho, pois refletem coisas muito boas. Pessoas que conheci e amigos que estão tocando suas casas, seus negócios e, que surpresa, seus casamentos. Deixo na agenda passada os números de novas sogras e sogros; anoto agora o nome de alguns casais e de seus inéditos lares com promessas de muita alegria e noites de carteado com cerveja e pizza.

Por fim, existem também os telefones que me deixam mudo. Gente que já gostei muito e que hoje não consigo mais oferecer (e nem receber) amizade, paixão ou cumplicidade. Poucos nomes, poucos números, mas que colocaram na vitrine as feridas, os tropeços, os fracassos e os incômodos que colecionei nos últimos meses. Anos de enterrar pra abandonar qualquer rastro de tristeza. Acontece que eu não esqueci.

(E como poderia?)