quarta-feira, março 16, 2005

A história da ex princesa

Sei que há contas a pagar
E há razões pra terminar
A semana toda ficou para trás
Ela tem trabalhado demais
(...)
E no seu apartamento
Ela se esquecia de tudo
Parecia uma princesa
Não se importava com o resto do mundo
E largava os pés em cima da mesa

Princesa
mauro motoki (ludov)



Tantos compromissos. Correria.

Cada vez mais me encontro em discussão íntima: é possível não gostar de pessoas? Gosto de almoçar sozinho, eis um bom começo. Nada de papo, nada de segredinhos. Insuportável.

Comprei o cd novo do Ludov. Rodou umas sete vezes, seguidas, comigo jogado no chão do quarto. Fiquei ouvindo as boas canções açucaradas e, novamente, desejei ser outro homem, outra memória, outro ofício, outra arma. Pela primeira vez em minha vida considerei, com o mínimo de seriedade, a hipótese de fugir. Fuga mesmo.

Pro fim do mundo!

Alguém vai lembrar de uma censura. Sempre foi assim daqui do outro lado. Tudo bem, já que estou acostumado em fazer figuração. Mas não no meu quartinho, não pros meus cds e nem nos meus planos de fuga. Aqui quem manda sou eu!

(De ganhar Nobel, orgasmo ou tradição. Aqui eu sou uma princesa!)

Se tivesse um pouco de decência, enchia a casa de flores, gelava cerveja e ficava olhando pra Lua, buscando estrelas. É isso que eu deveria fazer, junto com meus sonhos.

Mas quando os sonhos são gêmeos das saudades? O que a gente faz?

Joguei o relógio num canto escuro. Nem pensar em recolher os papéis amontoados, em esticar o lençol, em passar lavanda. Hoje eu não estou podendo com meu peso.

E nem com minha roupa...

E nem com minha história...

E nem com meu nariz...

E nem com este vazio.