quarta-feira, agosto 03, 2005

Tudo mais que existe


Saio sem alarde
Sei que já vou tarde
Não tenho pressa
Nada a me esperar
Nenhuma novidade
As ruas da cidade
O mesmo velho mar
Agridoce
Pato Fu


Desculpe por tudo e por não telefonar. Desculpe também por não falar muito quando você me procura. Apenas desculpe.

Muita coisa anda mal. Mal de verdade. Mas você nunca me ouviu reclamar de assuntos específicos, só de sentimentos e sensações gerais. Nunca quis entupir você com meus problemas, não mesmo. Acontece que acabei me tornando um deles.

Pelo menos isto.

Estou desesperado. É o máximo de fragilidade que você vai arrancar de mim. Coisas que eu acreditava, sofria e amava, muitas coisinhas que significam em minha vida, faliram ou estão correndo perigo de acabar. Daí eu não sei o que fazer.

Não é só você.

O que era sonho ficou sonho. Agora se desfez. Faltou empenho, faltou gana, faltou realização. Talvez tenha até faltado sorte. Sobrou é sonho, imundice abstrata.

Perdi a ternura e o gosto fraterno de querer um pouco mais, sempre mais. Antes eu pensava que alguém os tivessem roubado, mas não. Deixei eles irem e fiquei parado, no sonho, nos planos. E, claro, nada aconteceu.

Só os cabelos que começaram a cair.

Patético. E eu não sei o que fazer. Tudo o que eu falo pra você é desarmado. Fico comigo em pânico enquanto você acha a situação engraçada. Patética a minha dor, o meu luto e reclusão. Paralisia besta e você só consegue rir.

(Juro que gostaria fazer as coisas diferentes. Juro que gostaria de conversar como se não houvesse constrangimento. Juro que gostaria de passar na rua de sua casa sem procurar o seu carro. Juro que gostaria de sair para beber alguma coisa contigo. Caipirinha de saquê.)

Hoje não tem Bidê ou Balde, não tem rock pop e nem Chico Buarque. Não tem Pedro Juan Gutiérrez, maçã verde e sorvete de flocos. Vou desligar a TV, o som, o PC, o celular, o rádio-relógio, a luminária e o motor do carro. Fechar as janelas, esquecendo da luz, do dia e dos livros de poesia. Deixar de tudo mais que existe pra me encerrar no silêncio. Dormir em silêncio. Sonhar com silêncio.

Silêncio.