Dom Casmurro
(Da célebre série “Curtindo um som de madrugada”)
Tentei falar com você ontem e hoje, mas o telefone chamava sem resposta. Em qual parte do planeta você se enfiou? Maputo ou Barcelona? São Paulo ou Curitiba?
(Sei onde você está, mas gosto de lhe imaginar em novas possibilidades.)
Rio quando lembro de sua voz fina reclamando da minha barba cerrada, do escritório desorganizado e das roupas acumuladas encima da poltrona. Sinto muito prazer em recordar destas pequenas coisas, cotidianas, diárias, nossas. Sinto prazer em lembrar de como era viver com você por perto.
Liguei para dizer que estou atordoado. Precisava desesperadamente que você me possuísse, me tomasse em seu corpo e deixasse meu sabor se misturar com o seu. A noite passada foi muito quente e me excitei em recordar o cheiro do seu suor. Esta noite também será quente e igualmente solitária. Até nisto eu me repito.
Separei uns livros que desejo me desfazer, mas antes preciso vasculhar bem cada um deles. Ainda hoje me surpreendo com bilhetes seus deixados em páginas fechadas.
Amanhã tentarei levantar cedo para comprar algumas frutas. A casa toda está vazia e eu não gosto de ficar zanzando por ela sem encontrar nada para beliscar. Arrumei a trilha sonora do filme Lost in Translation e imagino o quanto você amaria todas as músicas.
(De repente me dou conta, novamente, que só posso imaginar.)
Engordei um pouco, mas não mudei muita coisa. Por vezes sinto que não mudei nada e que o tempo está congelado, que estou vivendo o mesmo dia durante esses últimos anos. Desisti de tantas paixões que eram significativas, tanta capitulação, tanta desilusão que não posso me culpar por estar exausto. Abrir mão de planos é a mesma coisa que se exaurir de sonhos, dá na mesma.
Tentei falar com você ontem e hoje, mas o telefone chamava sem resposta. Em qual parte do planeta você se enfiou? Maputo ou Barcelona? São Paulo ou Curitiba?
(Sei onde você está, mas gosto de lhe imaginar em novas possibilidades.)
Rio quando lembro de sua voz fina reclamando da minha barba cerrada, do escritório desorganizado e das roupas acumuladas encima da poltrona. Sinto muito prazer em recordar destas pequenas coisas, cotidianas, diárias, nossas. Sinto prazer em lembrar de como era viver com você por perto.
Liguei para dizer que estou atordoado. Precisava desesperadamente que você me possuísse, me tomasse em seu corpo e deixasse meu sabor se misturar com o seu. A noite passada foi muito quente e me excitei em recordar o cheiro do seu suor. Esta noite também será quente e igualmente solitária. Até nisto eu me repito.
Separei uns livros que desejo me desfazer, mas antes preciso vasculhar bem cada um deles. Ainda hoje me surpreendo com bilhetes seus deixados em páginas fechadas.
Amanhã tentarei levantar cedo para comprar algumas frutas. A casa toda está vazia e eu não gosto de ficar zanzando por ela sem encontrar nada para beliscar. Arrumei a trilha sonora do filme Lost in Translation e imagino o quanto você amaria todas as músicas.
(De repente me dou conta, novamente, que só posso imaginar.)
Engordei um pouco, mas não mudei muita coisa. Por vezes sinto que não mudei nada e que o tempo está congelado, que estou vivendo o mesmo dia durante esses últimos anos. Desisti de tantas paixões que eram significativas, tanta capitulação, tanta desilusão que não posso me culpar por estar exausto. Abrir mão de planos é a mesma coisa que se exaurir de sonhos, dá na mesma.
2 Comments:
Se são significativas talvez não seja bom desistir, só reintrerpretá-las de outro modo. Não desistirei de vc jamais...te carrego sempre comigo.
Rita
TheGun,
Esse texto fico simplesmente muito bom... Não sei se é relato ou ficção (todos os relatos às vezes implicam em ficcionar a realidade um pouquinho, não?), mas ficou muito bom!
James
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