Enquanto escuto Gonzagão
Segunda-feira de espremer cérebro. Não sei bem como estou pensando no blog. Hoje é dia de assistir o Linha de Passe e dormir pesado, gostoso. Dormir sem espaço para sonhos e nem pensamentos marotos. Pensamentos tolos, na maioria.
Tarde toda em frente do computador, esta é a minha rotina faz quanto tempo? Nem sei. Hoje fiquei escutando Luiz Gonzaga, o maior compositor de música popular que este país pariu. Bom escutar o velho sanfoneiro, pois ando pensando em esquecer que sou brasileiro.
Como se isto fosse possível.
Na sexta-feira teve reunião no colégio. O patrão fez uma macarronada e bebi muito. Cerveja gratuita, é sempre bom aproveitar. Acabo reforçando a fama de cachaceiro que peguei por lá, e entre adolescentes esta é uma boa fama. A reunião pedagógica foi pautada pelo mesmo clima de intimidação que rege todas as escolas particulares deste país. Recebi uma “lembrança” da secretária pedagógica, uma velha senhora, diretora de escola pública aposentada, que vive para cuidar da burocracia educacional. Ela quer vistoriar meus diários de classe e prometi levar nesta terça.
Não deu tempo de mexer com eles hoje. Fica pra quarta-feira.
Cabeça latejando. Amanhã tenho que falar da Segunda Guerra Mundial, das invasões estrangeiras no Brasil, do neocolonialismo do século XIX, do Renascimento Cultural e Reformas Religiosas. Chegando em casa, judeus do século I.
E, quando dá tempo, literatura. Se pudesse, ficava só com ela.
(Eis um pensamento constante que devo voltar em outro texto: diante do assombramento de nossa falência política, moral e afetiva, tenho aceitado que só nos restaram as bebidas alcoólicas, a música de entretenimento, a baixa gastronomia, a sub-literatura e o sexo. A idéia não é minha, nem nova, nem fácil, mas cada vez mais acredito que vivemos numa civilização pré-capitalista.)
Resolvi arrumar um pouco minha mesa, atolado de papéis e livros, muitos inúteis. Encontrei o rascunho de uma carta que eu estava escrevendo para a Cristiane. Lembrei que, há pouco, eu estava apaixonado. O que acontece? Mais três anos no stand-bye? Bem, na cartinha que não deu tempo de ser entregue, encontrei um texto da Clarice Lispector. Peguei na Folha de São Paulo, que alardeou como um inédito da escritora. Deixei gravado na mensagem do celular dela também, mas nunca soube se ela escutou minha leitura. Apropriado naquela carta, na voz digital, apropriado nesta noite mansa.
Apropriando sempre.
Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
(Clarice Lispector)
Tarde toda em frente do computador, esta é a minha rotina faz quanto tempo? Nem sei. Hoje fiquei escutando Luiz Gonzaga, o maior compositor de música popular que este país pariu. Bom escutar o velho sanfoneiro, pois ando pensando em esquecer que sou brasileiro.
Como se isto fosse possível.
Na sexta-feira teve reunião no colégio. O patrão fez uma macarronada e bebi muito. Cerveja gratuita, é sempre bom aproveitar. Acabo reforçando a fama de cachaceiro que peguei por lá, e entre adolescentes esta é uma boa fama. A reunião pedagógica foi pautada pelo mesmo clima de intimidação que rege todas as escolas particulares deste país. Recebi uma “lembrança” da secretária pedagógica, uma velha senhora, diretora de escola pública aposentada, que vive para cuidar da burocracia educacional. Ela quer vistoriar meus diários de classe e prometi levar nesta terça.
Não deu tempo de mexer com eles hoje. Fica pra quarta-feira.
Cabeça latejando. Amanhã tenho que falar da Segunda Guerra Mundial, das invasões estrangeiras no Brasil, do neocolonialismo do século XIX, do Renascimento Cultural e Reformas Religiosas. Chegando em casa, judeus do século I.
E, quando dá tempo, literatura. Se pudesse, ficava só com ela.
(Eis um pensamento constante que devo voltar em outro texto: diante do assombramento de nossa falência política, moral e afetiva, tenho aceitado que só nos restaram as bebidas alcoólicas, a música de entretenimento, a baixa gastronomia, a sub-literatura e o sexo. A idéia não é minha, nem nova, nem fácil, mas cada vez mais acredito que vivemos numa civilização pré-capitalista.)
Resolvi arrumar um pouco minha mesa, atolado de papéis e livros, muitos inúteis. Encontrei o rascunho de uma carta que eu estava escrevendo para a Cristiane. Lembrei que, há pouco, eu estava apaixonado. O que acontece? Mais três anos no stand-bye? Bem, na cartinha que não deu tempo de ser entregue, encontrei um texto da Clarice Lispector. Peguei na Folha de São Paulo, que alardeou como um inédito da escritora. Deixei gravado na mensagem do celular dela também, mas nunca soube se ela escutou minha leitura. Apropriado naquela carta, na voz digital, apropriado nesta noite mansa.
Apropriando sempre.
Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
(Clarice Lispector)
1 Comments:
eu também queria ficar só com a literatura. e esses escritos de Clarice foram providenciais hoje. e estou com saudade de te encontrar no msn. besitos!
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