Eu estou apaixonado e não sei o que fazer com isto.
Ontem fui caminhar, como faço em todo fim de tarde. Ouvindo Joni Mitchell. A noite estava confortável e longa, sem o tempo do trabalho, da agonia ou da tristeza. Eu caminhava tranqüilo, sem pressa, pausado, contente em estar comigo. Busquei a Lua com um canto de olho e esqueci de viver.
Whisky com gelo, mexendo as pedras com as pontas dos dedos.
Entrei no bar, procurando pertencer ao mundo. Da mesa em que eu estava, sozinho, observava os casais e os grupos de pessoas. Canto de olho, sem avistar as crateras da Lua. Encontrei outro solitário, umas quatro mesas longe da minha. Sozinho, bebendo cerveja em silêncio. Seu rosto caía como se as carnes estivessem despregadas da face, como se tudo escorresse e se sua plástica desistisse de compor uma feição. Fumava e carregava um olhar esfumaçado que, talvez pelo cigarro, pretendia não se fazer notado. Eu o vi.
O homem fazia o tipo acanhado e triste, cansado de ser, exausto de estar ali. Somos todos patéticos quando observados de perto. Continuei assim até que nossos olhos se cruzaram e virei meu rosto. De certo, era a minha vez de ser observado.
Será que ele percebeu que estou perdido? Será que ele viu em meus olhos a marca da Lua? Será que ele compreendeu que eu estou apaixonado?
- A conta!Meia luz, curtindo jazz. Não sei. Penso em meus poucos amigos e gostaria de estar com eles. Cantando Cartola, na Vila ou em Barão Geraldo, hidratando na Itaipava. Simples, como a Lua refletindo, apenas para dizer que estou apaixonado e não sei o que fazer com isto.