Antes de tudo, quero começar com uma confissão: está difícil gostar do que estou escrevendo. Não sei se o motivo é a atual dedicação ao meu texto de dissertação, que toma qualquer energia de pensamento, ou o punhado de
blog’s bons que tenho encontrado na rede. Coisas muito boas, bem escritas, de fazer chorar ou gargalhar. Enfim, estou cheio de pudores com estas palavras.
(Sei que passa.)
Outra confissão: faz uma semana que fechei em cima de uma idéia para um texto. Ela está me consumindo, não é exagero, pois rouba um pouco do meu sono, da minha reflexão na caminhada, do assoviar ao cozinhar. Fico pensando, escrevendo mentalmente, relembrando poemas, de coisas que li ou escutei. Quando resolvo parar de riscar meus bloquinhos e estruturar qualquer coisa, de crônica ao epitáfio, mergulho na vergonha, na incapacidade ou no desânimo. É estranho, é humano.
Eu quero escrever sobre amor.
Numa avenida movimentada perto da minha casa apareceu uma nova locadora de filmes. Funciona 24 horas, tem um cafezinho bacana e um bom estacionamento. Antes do Natal, naquelas tardes quentes de fazer memória, entrei pra conhecer e, quem sabe, alugar minha diversão da noite. A oferta era grande, mas só encontrei títulos de blockbouster, com
Beleza Americana na prateleira dos Cult’s. O menos ortodoxo foram duas fitas do Almodóvar que já tinha visto no cinema. Saudades dos tempos de Sampa.
Tinha desistido, caminhando pro café, quando recebo um cutucão nas costas. A Juliana conseguiu me fazer alugar
Harry Potter só com o sorriso de seus olhos claros (vejam se isto é possível: olhos sorrindo?). Uma pequena morena dos olhos d’água, tal qual a música do Chico, vestida com o jaleco da loja. E dali já assisti até o filme do
Garfield!
Está muito difícil dormir, e não se trata das grandes questões metafísicas que destroem os meus Domingos; está difícil dormir com tanto calor, com o compromisso da minha defesa nas costas, com a conta bancária no vermelho e com tanta música legal que ainda não consegui escutar. Afinal, as minhas madrugadas são pra isto, fazendo valer o café do dia seguinte. No entanto, eu não contava com estas novas reflexões marotas. Dei pra ficar pensando numa amiga de uma forma muito especial.
Engraçado saber que ela não desconfia de nada, pois jamais derrapei em uma pista, piscadela, flerte ou bobagens que a gente diz quando se entope de cerveja. Só se, como no caso da morena da locadora, os meus olhos me entregam e desatam em sorrisos. Acho pouco provável qualquer desconfiança, pois eu tenho tomado cuidados. Ela namora.
As mensagens continuam chegando, de todos os lados, dos sete mares, quatro pontos cardeais e dos dois pólos. Li no
blog de uma amiga um texto bom com uma imagem impressionante: um besouro de pernas pro ar, se debatendo, tentando se virar desesperadamente. Minha amiga tremeu ao perceber a metáfora perfeita. Eu não só tremi como desisti de fazer qualquer coisa que me lembrasse quem eu sou naquele dia. Andei horas de bicicleta sem nada na cabeça, cheguei em casa exausto e desabei na cama. Nem jantei e nem dormi. Esqueci.
A diversão fica por conta das boas notícias que se alojaram aqui na minha mesa de trabalho, no meio dos livros, misturando os cds. O mestrado está andando, não na pressa que eu gostaria, mas indo. E dentro de poucos meses já vou estar escrevendo os
Agradecimentos da dissertação. Que delícia é ter pra quem agradecer de coração, de chorar emocionado. Será que é muito tolo e brega expressar gratidão ao Roberto Avallone por salvar minhas noites de Domingo?
O som dobrado informa, sim senhor, como está o humor aqui no exílio. Saibam que baixei o novo trabalho do
Bidê ou Balde,
É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos, e fiquei viciado. É só a melancolia apontar na esquina que eu aumento o volume e fico pulando em meu quarto. Lógico, com a porta bem fechada. E a promessa foi feita: o primeiro salário do novo emprego vai para os três cds originais dos gaúchos. Faço questão de pagar esta conta!
Só agora vi que não consegui escrever uma linha sobre meu amor insone. Problemas. Ou consegui, mas de outras maneiras. Quem sabe? Ou talvez seja o momento de aceitar que amar é muito mais complicado e muito mais simples do que eu tento imaginar ou escrever.