Sob a perspectiva do exílio
Bellum Judaicum, I: 3
Não discutirei com os críticos severos a respeito da emoção: que atribuam os fatos a história e as lágrimas ao historiador.
Bellum Judaicum, I: 12
Vou evitar o tom de “acerto de contas” ou de despedidas. Não é bem assim. Também peço desculpas por não lhe citar no original grego, pois meu computador não está mais com a fonte helena que devo ter perdido na última formatação.
Quanto tempo faz? Quase sete anos, ou um pouco mais, não me lembro. Edição em espanhol, argentina, de 1961. Uma tradução boa, direta do grego. Ainda não existe uma edição portuguesa tão zelosa assim de suas obras. Dois anos depois encontrei a mesma tradução em um sebo, o ORNABI, na rua Benjamim Constant, e aí comecei a colecionar seus escritos.
Como corpo principal eu utilizei a edição estabelecida por Thackeray, da Loeb Classical Library. O quanto exatamente de seu original está nela, que não sofreu intervenções dos copistas medievais, eu não sei. Mas existe coerência, e acredito que você está realmente presente ali.
É estranho pensar minha vida sem você. Ontem passei a tarde toda lendo sobre o Renascimento italiano. Não era um livro sobre judeus. Quando me dei conta disto fiquei um pouco melancólico, já que estava acostumado a esta disposição. E por alguns minutos eu não soube o que pensar.
Não foi fácil colocar um ponto final, foi necessário. Gostaria de ter feito coisa muito melhor, ao menos algo que fosse honroso aos dois mil anos de espera. Foi o que consegui fazer e, espero, retomar o texto após as contribuições. Corrigir os erros e minimizar os furos, lacunas e desconhecimentos. Mas o que você me deu, isto sim, está comigo e muito bem amado.
Se eu bebo um copo de vinho, francês ou gaúcho, ele está dentro de mim. Deixa de ser regional, nacional ou internacional para constituir-se em minhas células, no meu corpo, no meu gozo. Aqui estamos também, íntimos, até o esquecimento.
Não há mais compromisso. Entretanto, seu peso ainda desejo sentir por muito tempo. Acabou a obrigação, mas firmou-se uma amizade carinhosa. Não sei do futuro que, como fez com você, me assusta. Não sei se vou continuar entediado entre crianças, se vou ingressar em outras áreas ou se, finalmente, conseguirei produzir um lugar para reflexões. Apenas sei que em qualquer lugar estaremos ligados pela memória e referência.
Dizem que um historiador não deve cometer o desatino de se enamorar por sua fonte. Pura bobagem. Não sou jornalista da Folha que acredita piamente na imparcialidade de seu ofício; por estes tenho cada vez maior desprezo. Tentei buscar a verdade, como nos ensinou Tucídides, interpretando o passado, como nos mostrou Políbio.