O que eu também não entendo
Em todos os lugares que você estiver eu vou estar.
Perto de você, eu não pude ficar, tente não me esquecer,
Vou tentar sempre te amar!
Bromélias
Bidê ou Balde
Demorou quase quatro anos, mas aconteceu novamente. Juro que pensei que isto era fato consumado, que nunca mais sentiria coisas parecidas. Que nunca mais tremeria ao falar pelo telefone. Aconteceu.
A dor está no tempo verbal, no passado. Assim, mais uma vez, acabou antes de começar e, acreditem, o que ficou sangra como uma multidão de pessoas abortadas. Cada sonho assassinado e interrompido é espinho rasgando a carne.
E sangra.
O certo, a única certeza, é que estou sozinho com todas as minhas qualidades e inseguranças. Aqui nada tem serventia ou validade. Só o esperar.
Nem time de futebol eu consigo ter, o que dirá do amor? É amargo, dói, humilha. Logo agora que eu me fazia gente, sem café, sem conhaque... Sem vergonha é esta vida medíocre que levo, no esquema cerveja-trabalho-televisão.
Restou um amigo que eu ligo no desespero e tento chorar.
Sobrou minha dissertação, paciente, aguardando cada palavra sofrida, parida e distante que vou colocar.
Ficaram meus manuais de histórias, minhas equações budistas, fórmulas mágicas, gosto de alma. Um resto de humanidade preso entre os dentes cansados de mastigar realidade. Cotidiano.
Comprei um Leminski, o primeiro da coleção. Taco fogo?
E, de repente, abandonei o cheiro bom; virei um fantasma assombrando a enorme casa, abrindo todas as portas, apagando as luzes. Capturando estrelas.
Foi.
(Aumento o som. É o bom e velho rock’n’roll. Isto fica. E eu lembro cada beijo que te dei.)